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SÓ PRÁ CONTRARIAR.

  • Foto do escritor: paulochedid
    paulochedid
  • 28 de jan. de 2019
  • 3 min de leitura

 

    Já ouvi dizer que todos querem ir para o Céu mas ninguém quer morrer antes.

    Se está frio ou está calor, todos reclamam. Se o café está pelando ou esfriou, não dá para tomar .

    Pego o Minhocão às 20:03, a partir da Praça Marechal Deodoro, um susto, deserto, devo estar errado, deve haver um comando na Roosevelt, vou ser parado? Multado? Coisa de louco!

Essa não é a minha cidade congestionada, irritante, que me obriga a sair de véspera para encontro com hora certa.


De qualquer jeito, teje preso.

Ligo a TV, escorre mais sangue que do falecido Notícias Populares. Os Institutos de Pesquisas informam: Deus está passando mal e o Otimismo não chega a 2019. Mas, não é sem razão.

É só notícia ruim. A praga do pessimismo tomou conta.    

Encontro um velho amigo português na inauguração de uma linda praça com passeios, fonte luminosa, escola de um lado, espaço para feiras do outro, academia ao fundo, duas quadras de tênis em piso de grama sintética.

Fim de tarde, por do sol em céu claro e a banda toca alto.

Um presente para Castanheira de Pera, no alto da Serra da Lousã ao Centro de Portugal, 3.499 habitantes, quando lá não estou.

    Eu, festivamente: "E aí? Tudo bem?"     Ele: "Vai se andando."     Eu: "Do que vocês reclamam? Veja que beleza.


O país está limpo e lindo.

As melhores estradas da Europa. A melhor comida do mundo.

Em nenhum lugar há atendimento médico igual.


Todo mundo de carro novo, morando bem. Não tem pedinte nem barraco. Não tem nem assalto. Shoppings maravilhosos. E os supermercados? Reclamando por quê? Do quê?    

Ele: "É. Mas, agora está pior."

    E eu nem comentei da televisão portuguesa, não falei de futebol. Eles só acreditaram na seleção nos tempos do Felipão. E os portugueses sabem que Cristiano Ronaldo é de lá. Ou não sabem? Dizem que é da Ilha da Madeira! Portanto não é do continente.

    Cá, como lá, otimismo é da boca pra fora. Quase junto com o tradicional "TUDO BEM! automático, vêm as reclamações: "me dói aqui, dói ali, você não sabe o que estou passando".

Um concurso dos piores.


Ninguém tem dó de ninguém. Ninguém escuta ninguém. Enquanto o outro chora suas dores, eu espero que ele tome fôlego para dizer as minhas queixas. Evidentemente, minhas dores são imbatíveis.

    Mas, há momentos de comovente fraternidade, à brasileira.

Experimente reclamar do custo de vida, do salário dos marajás, do roubo dos políticos, da Justiça, da violência das ruas, das manchetes dos jornais.

A roda aumenta, cada um conta seu caso e vai para o abraço. 

    Temos uma-amiga que recomenda uma bolsinha de assuntos, pra animar a prosa.


Esses aí em cima servem pra intervalos comerciais na TV, longas viagens de elevador, trombadas involuntárias com um passante atento ao celular enquanto você responde ao último WhatsApp.

    Porém, na hora de pedir desconto, o maior parcelamento; na hora de não fazer desconto e exigir à vista; no funeral em dia quente e o distinto sem desodorizante, fale mal do marido ou da mulher ausente; da empregada que quebra tudo e falta mais do que vem; do vizinho que, mesmo com a sua simpatia, seu sorriso e seus excelentes assuntos, nega um simples bom dia.     

    Chega.

    Depois de 2018, tudo é possível. O tal de Macron que era ídolo, já não é mais; estamos até nos acostumando com Trump derrubando cristais com seu topete, suas namoradas e a mania de administrar por Twitter; vai me dizer que, até a última hora, você ainda duvidava de Lula atrás das grades?;


E o Bolsonaro? Que lavada.


Só faltou o meu São Paulo Futebol Clube ser campeão. E não foi porque o campeonato foi longe demais, deveria ter acabado ao fim do primeiro turno (Tricolor Coca-Cola de 2 litros: na metade acabou o gás!)


    Seja feliz por convicção. 

    Pro ano que vem, só prá contrariar, vamos repetir a dose. Vamos dar um jeito nessa baixa auto-estima depressiva, contagiosa; vamos proibir mau humor, impaciência, intolerância, más notícias; que se danem os coveiros do amor próprio; vamos cuidar dos nossos sonhos, nossos queridos; desligar a TV e sair pro sorvete sem culpa; ir ao cinema de mãos dadas; sorrir para as crianças, mesmo as sonolentas e saudar os pais; atender as ligações de pé, alegre como se fosse jovem; concordar com as confusões dos idosos, a começar por nós; não faltar aos encontros chatos, porquê com você serão encontros agradáveis; não esquecer a bolsinha de assuntos onde estiver, até em casa; troque a bronca pelo silêncio; a inércia pela atitude; a reclamação pelo elogio; a queixa pela sugestão; o mau pressentimento pela confiança; a tristeza pela alegria contagiante; a dor por uma inesquecível gargalhada de uma piada cansada.

Paulo Chedid 14 de dezembro de 2018

 
 
 

1 comentário


thaizvescovi
29 de jan. de 2019

Que 2019 seja um ano ótimo, cheio de gente feliz, animada e alegre. Só pra contrariar rs

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