SERÁ QUE A VIVI VEM?

Do outro lado choro, gritos, apelos. Um telefone que ganha vida, salta e solta se não for agarrado com aquela raiva sem uso, ​estocada no inconsciente para momentos extremos.

- "Quem é?" - "Calada! Quem é você?"

- "É a Vivi."

É só disso que a Vivi lembra. O resto é conhecido como o golpe do sequestro. Ao fundo um pedido de socorro. E a voz dizendo que vai morrer. A vítima é você. O incauto chocado, sem entender uma ligação que não queria atender.

Uma vida está ameaçada.

Em dois minutos, Vivi contou tudo, sua história, a história da família, a história do Rafael em poder dos sequestradores, falou e falou, implorou, negociou, prometeu o que nunca teve. E prometeria mais, se assim fosse ordenado.

Deu o número do meu celular. O outro lado desligou.

Um dia, o golpe virá de um computador e não de dentro da cadeia.

OU VIVI NÃO VEM MAIS?

Mas, sabe o que ninguém inventou nos eletrônicos? A emoção, o carinho, o sentimento, o afeto.

Eletrônico não sente saudade. Questão de tempo. Enquanto isso, eu fico sem saber da Vivi, depois que o marido morreu.

Será que vai aparecer? Será que continua? Pessoas assim estão em extinção.

Paulo Chedid 24 de novembro de 2018